quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Isso pode ser considerado filosofia?

Sem dúvida,  os manuais de filosofia convergem para um ponto comum, a filosofia grega. Mas, diversas pesquisas têm contestado essa primazia grega, explicitando o caráter pluriversal da filosofia.
Mas, em meio a essas discussões,  existem desafios. Em certa medida, existe uma tese de que a filosofia tem certidão grega. Por outro lado, outra questão decorrente do primeiro problema posto está na análise dos textos de filosofia africana.
Pode-se dizer que Amenemope era considerado como um filósofo.  Isso porque, tem uma sabedoria associada ao contato com os deuses, uma vez que ele era faraó.
Com isso, a voz de Amenemope ergue-se a alturas éticas  jamais sonhadas e nunca até aí jamais alcançadas no Egito.


sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Os Ensinamentos de Amenemope

Os ensinamentos de Amenemope servem como testemunho para a felicidade.
Esse autor, tem uma questão que atravessa toda a obra , a virtude do silêncio ou ética da serenidade tomando como alvo da arte de usar o discernimento.
A nossa leitura do texto pretende recobrir dois objetos que encaram o projeto filosófico egípcio de Amenemope , que informa as duas possibilidades para a obtenção de uma vida serena: (1) caminhos da barca e (2) a medida da balança. Esses elementos da filosofia de Amenemope integram o que denomino de ética da serenidade.

(1) Os caminhos da barca

A barca circunscreve ideias como experimentar, degustar, testar o gosto e participar de uma experiência que não seja ordinária.  A barca carrega a ideia de que a travessia  é uma experimentação. Ou ainda, a possibilidade de fazer um novo caminho , ou ainda, percorrer o mesmo destino para compreender , aprender e ensinar.

(2) A medida da balança

Na cosmovisão egípcia a balança é um signo que remete á medida da justiça. No texto de Amenemope , a balança aparece como guia importante. No décimo sexto capítulo dos Ensinamentos , o filósofo egípcio adverte: não altere "as escalas nem falsifiques os pesos ou diminua as frações de medida(..) . O macaco posta-se junto á balança". É importante explicar que Macaco é uma alcunha de Toth, esposo de Matt, deus da sabedoria , conhecimentone escrita. As narrativas sobre Matt e Toth indicam e circunscreve o que denominamos de "medida da verdade" ou "peso da verdade".


   Amenemope faz uso da narrativa mítica imprimindo o sentido filosófico. Para Amenemope o silêncio é uma característica própria de serenidade. A serenidade é que permite o discernimento , o conhecimento de uma situação,  das coisas , dos modos como nossa força vital e coração brigam diante de um desejo.
   Ele propõe como ética da serenidade um tipo de reflexão silenciosa que nos coloca diante da balança de Maat para medir as coisas,  as palavras e agir de uma maneira qur a harmonia interna não seja perdida.
   O filósofo propõe um percurso filosófico , o uso da bafca no sentido do estar de bem consigo , a barca é tão somente o significado de atravessar o mundo em busca de si.

O que é a ética da serenidade ?

    As pistas de Amenemope convergem para um aspecto. As características de geru maa , literalmente 'silencioso ou sereno' pelo menos ums questão: a possibilidade de ser feliz.
    De modo simples, uma pessoa feliz é alguém que conhece q si, sabe sobre si porque usa do discernimento e , portanto pode levar uma vida feliz independente do destino.
   Dito de outro modo, a serenidade é uma posição moral sugerida por Amenemope . Mas , para atingir esse estado, o que se realiza discernindo silenciosamente sobre a medida da verdade.

Glória ao Egito: ensinamentos de Amenemope



quarta-feira, 5 de novembro de 2014

O que são esses textos ?

A literatura produzida pelos egípcios foi fixada em vários materiais,  como ostracas (pequenos pedaços de pedra) e em papiros.

A ideia de gêneros literários claramente definidos (romance, conto, poesia) é por vezes de díficil aplicação,  pois um mesmo texto pode misturar esses vários elementos. A obra de Amenemope é considerada como a fonte de livro bíblico. 

Amenemope apresenta uma primorosa estruturação da obra, divide em trinta capítulos- uma inovação sem precedentes que informam, instruem e podem ser considerado o melhor de todos os livros. Como bom egípcio , não podia ignorar os antecessores; inspirou-se em materiais de tradição. Mas, acabou por atingir inegável inovação. 

No gênero gnômico esta obra decerto atingiu um dos pontos culminantes. Diversos temas recorrentes nessa literatura , também aqui (por exemplo obediência aos superiores, frugalidade, discrição etc), porém o que distingue o texto de Amenemope é a riqueza de metáforas e o estilo bem cuidado abundante em frases elípticas, palavras raras, alusões nem sempre compreendidas por nós,  o que torna sua tradução difícil. 







Ostracas


As contribuições de Amenemope

No texto egípcio Instrução de Amenemope , logo um egiptólogo alemão se apercebeu de que várias frases do Livro dos Provérbios o traduziam fielmente.


              Papiro contendo as instruções de Amenemope, que influenciaram o autor do livro de Provérbios. 


Os capítulos de Amenemope lançavam nova luz sobre a ética religiosa egípcia , em largos trechos impressionantemente próxima  não só da do Antigo Testamento , mas também do Novo Testamento. 

* Tradições e Inovação

Como bom sábio e bom egípcio , não podia ignorar os antecessores; inspirou-se em materiais da tradição. Mas de tal modo harmonizou Amenemope a tradição com a mais nova mentalidade que, ao fechar a leitura , verificaremos que os acordes dominantes da partitura sinfónica estão nos antípodas das primeiras notas.

                "Empresta os teus ouvidos , 
                 ouve o que é dito,                
                dà o teu coração a entender.
                É útil pô-lo no teu coração, 
                mas ai de quem o despreza."

* Respeito pelo mais fraco

Outro ponto forte da ética de Amenemope , que o destingue dos moralistas anteriores: o respeito sagrado pelas pessoas de condição inferior, física ou socialmente carentes. O respeito pelos diminuídos físicos se encontra nas primeiras linhas o cap.25.

                      "Não te rias do cego,
                        nem troces do anão. 
                        não firas os sentimentos do entrevado,
                       não troces de um homem que está
                         nas  mãos de Deus. [...]

O respeito pelo pobre e a saída da tentação comum de dar importância ao rico e desprezar o pobre.
              
      "  Não te inclines para o homem bem vestido,
       E afastes o andrajoso.
       Não aceites o presente de um homem poderoso
        e despojes o fraco por amor dele."


*Deus e pobreza associados

A probreza é , aliás , estimada como um valor em si, com sensibilidade e religiosidade pré-evangélica. 
      
                  " Mais vale pobreza na mão de Deus
                   Que riqueza no celeiro.
                   Mais vale pão com um coração feliz 
                   Que riqueza com vexacão."

* Deus e o homem em tonalidade pré-cristã

Amenemope apenas comunga do grande sentimento religioso da piedade pessoal do Império Novo. Pobre e aflito são auto-designações do orante que busca auxílio e proteção de Deus.
Assim, em hinos de Império Novo:

        " Como é belo estar sentado na mão de Amanon
          protector do silencioso,
          salvador do pobre,
          que dá ar a quem ama!
          Tu és Amon, senhor do silencioso,
          que vem á voz do pobre.
     [...] Desta ar a quem estava aflito. "

Quem é ?






Homem sábio do Nilo. Cresceu no Egito. E por muitos era chamado de "filho do homem e, por outros de Amenemope.
 Ele foi o quarto faraó da XXI dinastia. Governou o Egito durante o Terceiro Período Intermediário entre 993 e 984 a.c.
Pensa-se que ele seria filho de Psusennes I , o seu antecessor. E a sua mãe teria sido a rainha Mutnedjemet.
Foi sepultado num pequeno  túmulo em Tânis, mas mais tarde a sua múmia foi transferida pelo faraó Samon para um túmulo mais digno , originalmente pensado para a rainha Mutnedjemet. 
Autor dos Ensinamentos (2000) que foram preservados na íntegra e estão acessíveis no Papiro 1074 do Museu Britânico datam aproximadamente 1300 a. C.